terça-feira, 27 de julho de 2010

A FELICIDADE

Por Luiz Henrique Ribeiro da Fonseca

Não consigo entender a felicidade como uma verdade, pois para mim ela é uma aparência, uma interpretação efêmera de um estado de espírito. A visão que damos a ela depende de múltiplas condições e construir uma vida sob esses valores pode nos levar a perder a conexão com a nossa existência. O homem procura a “felicidade”, como se fosse um cachorro que corre atrás do próprio rabo, simplesmente por que não aceita as reservadas da vida, a mortalidade, o fim das coisas, preferindo a satisfação beata em detrimento de algo mais profundo, que muitas vezes não é explícito, mas que pode ser alcançado através da racionalidade de seu próprio instinto.
Vivemos num mundo de desejos e consequentemente de tormentos, e toda essa multiplicidade é fruto do não reconhecimento de uma vontade (metafísica) contra a qual lutamos sem poder visualizá-la e quanto mais procuramos nosso bem-estar, mais essa vontade se manifesta de forma que não enxerguemos essa fome devastadora que nos faz devorar a nós próprios. Essa força objetivamente disputa na mesma intensidade e grau com a nossa necessidade ávida pela busca do bem-estar (felicidade), e ao darmos um passo na direção do prazer essa força nos desloca para outro lado, com maior intensidade e grau, pois a nossa cobiça é infinita. Tudo isso se justifica através de nossos desejos, de nossa ansiedade em querer a conquista e depois se sentir entediado após alcançar o objetivo. Essa é a nossa característica, nossa natureza, como se vivêssemos em uma selva onde o vegetal é o alimento de um animal e este a presa do predador. Este ciclo nada mais é que o fruto de uma vontade, cuja característica é a busca de algo que julgamos ser boa simplesmente por que a queremos, sem que saibamos, definitivamente, se realmente ela o é.
A felicidade seria o repouso; e como repousar sob a onipotência dos instintos, os quais estão acima da razão, do espírito, da inteligência e de qualquer postulado dogmático? Se há vontade, há vida e a nossa função é aceitar suas reservadas, o feitio que ela nos dá de que tudo é uma questão de sobrevivência, de equilíbrio, em reconhecermos esses instintos, simplesmente por que é ele que determina o destino do homem e cabe a ele aceitá-lo e curvar-se a essa vontade que se chama: querer-viver.

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