quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O ESPÍRITO DAS INSTITUIÇÕES


Por Luiz Henrique Ribeiro da Fonseca


O pleito de 05 de outubro, em Antonina, foi uma festa da democracia. Comícios, carreatas, explanação do plano de governo, deram mostra da maturidade política da sociedade capelista. Confesso, não sou um defensor fervoroso da democracia. Sou um socialista e, na minha ótica, só através do socialismo é que alcançamos a igualdade social, política e jurídica. Suas múltiplas vertentes vão do socialismo utópico, democrático até o comunismo, e partem de uma filosofia humanista. Mas a minha utopia não vem do sonho e sim da poesia, e esta é que me faz olhar para Antonina e lapidá-la dentro de um horizonte possível e não imaginário.
Talvez eu seja um pretensioso em querer nos dias de hoje falar em sonho, restaurar princípios, mas a minha intenção não é anacrônica, vem do meu olhar para o horizonte atingível, que remonta fragmentos, que alinha vestígios e propõe as bases de uma nova mentalidade política e social para a nova administração de Antonina. Também não vou propor um plano de governo, esmiuçar o que um governante deve e não deve fazer, pois parto do princípio que Canduca e sua equipe já o fizeram, e muito menos dissertar métodos maquiavelistas de como um “príncipe” deve agir nos momentos de crise. A minha pretensão é poética, idílica, e vem do meu amor por Antonina, da visão humanista que emana do meu espírito político, dos olhos de um adulto que às vezes a vê patética e engraçada, mas que na verdade a encara como a última fronteira da minha felicidade. Fui criança em suas ruas e nela segui os motes das cirandas, em sua baía fui um boto festeiro que, com arrojadas piruetas, tentou seduzir as meninas da beira-mar; senti cada paisagem sem o rigor monolítico de sua arquitetura, e hoje, mergulhado na sensação de que tudo que se estende à minha frente tem uma representação, sinto-me consolado, pois cada olhar tem um sentir, como em cada aventura tem seu tédio, e que tudo é dimensões, que tudo isso não passa de um estado de alma de quem ainda vê Antonina com olhos de criança.
Esses meus olhos são o espelho da minha visão humanista, do meu espírito romântico para as coisas que dizem respeito à Antonina e por isso torço que esta nova administração evite, em primeiro lugar, o conceito de que a política é nefasta e que deve ser seguida de acordo com as impressões que vemos por aí. Se olharmos além da nossa reles percepção, enxergaremos que há uma lei que governa o mundo, uma natureza, um princípio inserido em cada segmento de governo. Cada modalidade tem sua lei e esta tem seus princípios, como escreveu Montesquieu, em O Espírito das Leis. Em nosso caso a natureza é republicana e o espírito é o de construir instituições voltadas para o indivíduo, através dos princípios humanistas. O indivíduo deve ser inserido no contexto da administração como sujeito das transformações sociais, isto é, a instituição deve ser o meio e o homem o fim. Para isso cada ação implementada deve seguir uma filosofia e esta tem que estar alicerçada em certos princípios, sem jamais se desviar de sua essência. Caberá ao administrador e aos funcionários agirem de acordo com o espírito da instituição, de sua consciência e transformá-la em um produto meramente humanista, fugindo assim do proselitismo administrativo e político. O produto gerado pela instituição pública não só deve valorizar àquele que a procura, como também àquele que atua como agente fornecedor do serviço. Corpo administrativo e usuários devem sugerir rumos, indicar soluções e propor mudanças na administração, caso ela não atenda as necessidades para a qual foi criada. Parte-se da visão macro, através da percepção de seu papel histórico e a partir dele recuperar o espírito da instituição (valores e princípios) e engendrar ações que possam atender as necessidades elementares do cidadão.
O administrador também deve olhar a cidade, o caminho que ela indica e senti-la em seus aspectos urbanísticos e sociais. Ela é um ser que clama através da voz e do olhar de seu povo que enfrenta o mau atendimento nas instituições de saúde, na deficiência de seu sistema educacional, no aumento da criminalidade, na ociosidade dos adultos e na falta de perspectiva de vida do jovem. Saúde, educação, emprego e segurança pública, não alcançam as soluções através da construção do espaço arquitetônico, nem no aparelhamento de suas instituições, muito menos na quantidade de agentes fornecedores de serviço; essas estão nos liames das instituições que compõem o quadro administrativo e social, nos princípios que a regem, nos valores que ela deve resgatar. Essa é a visão humanista de um administrador, é a cultura mais importante de uma civilização, é a verdadeira filosofia formadora de um cidadão, a base de uma cidade onde a instituição é humanista e dela o povo usufruiu.
A educação, por exemplo, não pode ficar limitada ao espaço educacional, ao conteúdo programático dado nas salas de aula, aos alunos e à logística. Sua amplidão vai desde a família e suas relações afetivas até a escola e suas relações sociais. Essas instituições sofrem de vários males – se pegarmos os aspetos negativos – que vão desde a violência familiar até a má qualidade do ensino. O desemprego e a dependência química influenciam negativamente nas relações afetivas e estas, sem dúvida, influenciam no desempenho escolar do aluno. No âmbito da escola encontramos a falta de incentivo a professores e funcionários, a degradação física do espaço escolar e a péssima qualidade de ensino. É notório que há uma relação entre as duas instituições e por isso não devemos tratá-las em separados. Para que o problema seja atacado, em primeiro lugar a administração pública deve olhar para os princípios que regem cada instituição, desdobrá-los e transformá-los em ações pertinentes voltadas para a melhoria do ensino e indicar uma perspectiva de vida ao jovem e à sua família.
A saúde pública é uma questão de gestão, ou seja, os problemas não ocorrem por falta de dotação orçamentária e sim pela ineficiência de seus gestores. A política de saúde não passa apenas pela construção do hospital, pelo aparelhamento, e sim pelo aprimoramento dos seus gestores e do respeito da administração com os princípios que norteiam a política sanitária - que vai da prevenção, através do saneamento básico, da administração, através do aprimoramento dos gestores e do respeito aos recursos a serem destinados. O envolvimento da sociedade é fudamental, pois é ela que usufrui dos serviços prestados. Para isso, aconselho que a nova administração constitua um grupo de representantes da sociedade com a atribuição de propor caminhos para que a instituição resgate o seu verdadeiro papel e amplie o atendimento através de convênios com hospitais de grande porte para que a sua população se beneficie das tecnologias de última geração. Para essa proposta ter objetividade é relevante uma investigação sobre as necessidades patologicas de seus usuários e depois diagnosticar, objetivar essas intenções através de uma estratégia muito bem coordenada pela Secretaria de Saúde.
Outro fator é a questão da segurança pública. Sabemos que a violência corrói a ordem social, devido ao seu caráter imprevisível. Antonina, ao meu ver, não tem esta característica difusa, porque não há bolsões de miséria, embora seu zoneamento discipline onde fica a pobreza, a qual é alijada dos serviços que só as classes mais favorecidas recebem. Como na saúde e na educação, a segurança pública é uma questão de gestão, a qual não passa apenas pelo fornecimento de armas e pela capacitação de corpo militar e civil. Polícia e jovens são os principais atores e é para eles que a administração deve focar, investigar e mapear a violência que, para mim, está ligada ao tráfego de drogas e a dependência química. Mas este é o efeito e não a causa - é o fim e não meio pelo qual encontraremos a solução – como no caso da repressão policial. É visível que o jovem anda em grupo, forma tribos e tem como arquétipo algum grupo com o qual ele se identifica, através da mídia. Paradoxalmente sente-se excluído socialmente e, como forma de sobrevivência, busca uma identidade, alinhando-se em grupos, como se fosse uma espécie de inclusão social às avessas. A socialização das drogas, a violência doméstica e a falta de perspectiva do jovem são as bases da desagregação social e cabe ao administrador, à sociedade organizada, implementar um espírito humanista nas instituições, não só destinado ao jovem, como também à instituição familiar, pois a perspectiva de vida da juventude também passa pela perspectiva dos pais. Por fim, a questão do tráfego e da dependência química está diretamente ligada às instituições (família e Estado) e para tanto a família e o jovem devem ser inseridos no contexto social, tendo como base a educação, o esporte e o lazer, bem como cursos profissionalizantes que os direciones ao mercado de trabalho.
Para finalizar, afirmo que todo processo de mudança se inicia pela investigação da realidade das condições institucionais, através do diagnóstico realizado pelos agentes responsáveis pelas mudanças sociais e institucionais. Esse instrumento vem da sociedade organizada em conjunto com o executivo e suas ações, do legislativo e suas leis, e do judiciário e sua proteção. Esta rede colegiada definirá, com base na investigação e diagnóstico, os valores e princípios das instituições e o meio pelo qual elas atuarão. Esses valores e princípios, alicerçados pela filosofia humanista, serão os agentes formadores do espírito das instituições e este o instrumento para que a população conquiste sua cidadania.

5 comentários:

Chris Herrmann disse...

Luiz, meu amigo,

feliz estou em visitar seu blog e, mais ainda, com o conteúdo de seu artigo. Eu compartilho PLENAMENTE com o seu pensamento socialista e humanista.

Parabéns pelo texto, adorei.

Luiz para Prefeito de Antonina!! ;)

Beijos,
Chris

Prosa Mineira disse...

Parabéns, Luiz!
Com esse 'Espírito das Instituições', Antonina será o paraiso. (se é que já não é.)
Vida longa para Antonina e seus governantes! Muitas realizações!
Vida longa para você, querido amigo humanista de tão lindos ideais.
Beijos
da Maria Lucia

Unknown disse...

Bom texto.

Esta "inclusão social às avessas'' pode ser ''às avessas da avessa'' também. Não é só se espelhando em algum arquétipo já pré-estabelecido pela mídia que os jovens se socializam. Há também a rejeição à certos tipos de mídia, que criam um "lado C'' nesta história toda.
Existem jovens que não usam cabresto para a propaganda que é divulgada. Que sabem que é o dinheiro a política da ''boa programação''.
A recusa à realidade cria seres com visões bem diferentes às convencionais e conhecidas. A minha geração - não toda, mas à qual eu me refiro - está aprendendo a como ''não'' ser com os atuais...
Um futuro melhor eu acredito. E luto por ele.

Abraço

Laura V. disse...

Querido Chino,

Chegar aqui me produz uma dupla satisfação:por um lado, saber que criou um blog onde poderemos desfrutar de sua prosa e por outro comprovar que coincido com tudo que vc diz (ou quase,pq quando se fala em "notáveis" fico alerta por instinto rs).
Sua Antonina parece ser o lugar para implementar todos esses princípios e demonstrar que as utopias nao morrem.

Um brinde à Antonina
um brinde à vc!
um binde ao futuro!
hic hic hic...

s disse...

Você sabe que gosto demais de ler seus escritos, em especial sobre Antonina, é um raro prazer!

Que bom ter agora esse ponto de encontro, como num dos recantos de nossa amada Antonina, onde posso ler suas idéias ao som de Bach...Parabéns!